Destilando
Conceitos
Panteões – Teogênese, pt.1 – Origens, Conceitos e Poder.
Olá,
Bravos!
Alguns
leitores – sim, este blog tem leitores! :D – me pediram para ajudar na criação
de divindades para seus jogos. O Old Dragon não apresenta divindades ou regras
para elas. Embora campanhas inteiras possam ser criadas sem a presença dos
deuses, eles são uma parte importante da criação de personagens e,
principalmente de clérigos.
O
assunto é bastante extenso, mas tentarei ser sucinto e prático (Há!). este
assunto será dividido em quatro partes, e como é de costume aqui na Casa do Alquimista,
no fim do último artigo vou postar todos num arquivinho .pdf.
Qual a origem
das Divindades?
Talvez
uma das mais interessantes e menosprezadas questões a ser respondidas ao se
criar um panteão é De onde os deuses
vieram? Pode parecer algo sem importância, mas a resposta para esta questão
pode ser o fio condutor para a própria identidade do mundo.
A
origem das divindades pode ser abstrata ou física:
Origem Abstrata: Os deuses nasceram de uma ideia ou
conceito. Esta ideia ou conceito pode ser tanto uma criação coletiva do
pensamento dos mortais ou mesmo resultados dos sonhos do próprio universo.
Embora possa parecer uma origem simples, ela implica alguns problemas
teológicos, afinal, se as divindades são criações do coletivo imaginário, isso
significa que, digamos, um massacre de seus adoradores ou a decepção destes
mesmos adoradores pode resultar na morte da divindade, enquanto se elas são
alheias à mentalidade coletiva, como o resultado de um “sonho do universo”,
elas podem ser totipotentes, simplesmente nunca ser derrotadas e sua interação
com os personagens podem ser complicadas ou nulas.
Um
bom exemplo de divindades abstratas são os deuses de Tormenta, todas são filhas
de duas poderosas forças, o Nada e o Vazio, e a diminuição ou aumento do número
de seus seguidores ou de seus aspectos representa a diminuição de seu próprio
poder: Em tempos recentes, Tauron, o deus da força, ganhou muito poder após
seus domínios físicos e numero de adoradores aumentou, enquanto Glórien, deusa
dos elfos que já andava mal das pernas perdeu seu posto divino e se tornou uma
deusa menor.
Origem Física: Deuses podem ser fruto do mundo ou do
universo em que vivem. Eles podem ser uma personificação das montanhas ou dos
rios, como eram os deuses gregos, de fenômeno naturais ou mesmo uma representação
do cosmos. Uma sociedade que já possua conhecimento dos planetas, poderia
associar aquela orbe a um deus específico. Esta origem pode facilitar a
construção de panteões, especialmente se o mestre deseja que as divindades
sejam próximas aos jogadores.
Em
algumas mitologias os deuses são extremamente próximos aos mortais. As
divindades físicas não precisam ser extremamente poderosas como as divindades
abstratas, na verdade elas podem ser divindades fracas em poder mas com muita
importância no mundo: No antigo desenho animado Hércules, havia Trivium, o deus
de onde as três ruas se encontram. Estas divindades podem parecer não ter
importância nenhuma, mas podem ser um repositório de conhecimento geral ou o
patrono de uma classe: Um deus guerreiro errante pode ser adorado por
guerreiros e cavaleiros de todo o mundo, mas além de ser adorado, ele também
pode ser um companheiro de batalhas.
Quantos
deuses o seu mundo possui?
Também
pode parecer uma pergunta desnecessária, mas ela é muito importante,
principalmente para manter a coerência e a importância das divindades. Vamos
usar duas religiões como exemplo, o hinduísmo e o cristianismo: No hinduísmo
possuímos milhares de deuses. Literalmente milhares. Em religiões panteístas
muito extensas, algumas divindades podem dividir suas áreas de atuação ou mesmo
nem serem lembradas pelos fiéis. Já no cristianismo há uma única divindade
(estou, obviamente, ignorando todos os santos, anjos, apóstolos e mártires que
esta ou aquela vertente possuam), que abraça todas as áreas da vida dos fiéis.
Uma
forma de definir o número de divindades de um cenário é definir quais são os
aspectos mais importantes daquele mundo. Enumere uma lista de aspectos
principais e uma lista de aspectos secundários, e depois “bata” as informações:
Os aspectos secundários são importantes ao ponto de se auto sustentar ou
precisam dos aspectos primários? Definindo esta questão, você define quantos
deuses são necessários, se existe a necessidade de deuses menores ou santos, ou
se seus clérigos podem viver sem divindades.
Um exemplo: O mundo X tem como aspectos
principais a liberdade, a guerra, a vida e a morte; e como aspectos secundários
justiça, agricultura, navegação, natureza, comércio, conhecimento, nobreza,
sol, lua e estrelas. Vendo os aspectos, o mestre pode considerar que justiça e
nobreza farão parte do aspecto Liberdade; Natureza e Sol à Vida e Lua e
Estrelas à Morte, podendo pertencer à divindades ligadas ao
3. Quais sistemas de crenças o mundo possui?
Como
é a visão teológica do seu mundo? È comum em cenários de fantasia medieval que
o panteísmo (sistema onde muitos deuses coexistem) seja comum. Todos os grandes
cenários – de Arton à Westeros –, com poucas exceções, possuem uma grande
família divina. Mesmo em nosso mundo, possuímos mais religiões panteístas
(ativas ou extintas) do que religiões monoteístas, mas insto não necessariamente
deve ser uma regra: Um cenário mais simples ou de tom realista pode possuir
apenas uma divindade (monoteísmo) ou
duas (dualismo) que podem ou não ser
adversárias. O número de deuses deve sempre ficar em acordo com a vontade do
mestre e a história do mundo (como tratei na questão 1).
Para
facilitar, defina qual ou quais sistemas o seu mundo possui. Para facilitar,
vou apresentar os cinco sistemas mais comuns e simples:
- Monoteísmo: Existe apenas um deus. Ele é responsável por todos os efeitos naturais e sobrenaturais do mundo. Embora possa parecer monótono, o monoteísmo pode gerar correntes religiosas irmãs e ao mesmo tempo adversárias: Um mundo onde o Deus Sol é adorado pode possuir uma vertente que o vê como um provedor da vida e outra pode ver a divindade como um inclemente deus que pune os infiéis com sua espada de fogo;
- Dualismo: Existem duas divindades, normalmente opostas uma a outra. Em sistemas dualistas é comum que tendências maniqueístas sejam mais explicitas. Bem e mal, início e fim, vida e morte, claro e escuro. Esta opção mantém o eixo bem e mal muito mais explícito. Neste caso, não existiriam sacerdotes neutros, ou eles seria devotados à contemplação da natureza ou fariam parte de uma sociedade de mistérios. Um bom exemplo de religião dualista seria o Mazdaismo, focado na eterna luta de Ahura Mazda e seu irmão maligno Angra Mayniu;
- Politeísmo: Muitos aspectos, muitos deuses. Aqui a coisa pode ficar mais divertida ou mais complicada, dependendo da abordagem. O politeísmo prega que existem muitos deuses, normalmente uma família de divinais. No politeísmo qualquer aspecto pode ser transformado no cerne de uma divindade, e o número delas só é definido pela vontade do mestre. A religião helênica, a wicca, o hinduísmo, o asatru e o candomblé são exemplos de politeísmo;
- Animismo: A adoração aos espíritos ou às forças primordiais da natureza também pode ser uma saída na hora de criar um panteão: Religiões como o xamanismo apelam para os espíritos ao invés de invocar deuses e santos. Nesta abordagem, o mundo seria permeado por espíritos, e o clérigo poderia adota-lo como uma divindade ativa. Este é um dos caminhos mais complexos, pois muito da conduta do clérigo sairá de sua própria interpretação.
- Ateísmo: O que? Ateísmo? Sim! Ateísmo! Quem disse que um mundo precisa possuir deuses ou espíritos para existir? Em um cenário ateísta, não existem deuses e os clérigos retiram seus poderes de sua própria força de vontade ou de filosofias religiosas. Um sacerdote da paz poderia existir mesmo em um mundo sem deuses, louvando o conceito de paz e fazendo dele seu caminho religioso.
Como
definir o poder das divindades?
Para
facilitar a vida do mestre, vamos usar uma fórmula bem batida de definição de
poderes: Divisão por conceito e nível.
Conceito: Os deuses deverão ser encaixados nos
seguintes conceitos:
- Deuses Supremos: São os deuses impalpáveis. Eles são todo-poderosos e provavelmente criaram os outros deuses. Eles são representados como uma espécie de potência, como o sonho dos aborígenes, como uma força descomunal (a fênix dos X-Men, por exemplo) ou como uma divindade tão poderosa que existiria por sí, como o conceito de Deus para os cristãos e Alláh para os muçulmanos. Embora deuses supremos possuam seguidores – talvez até mesmo sendo adorados por outros deuses – eles não costumam interagir com os mortais ou conceder poderes clericais;
- Deuses Maiores: Talvez a maior força a que os mortais tenham acesso. Os deuses maiores são, normalmente, os primeiros seres criados no mundo e detentores do maior número de fiéis e clérigos. Deuses maiores concedem mais poderes a seus seguidores, e costumam ser conhecidos até mesmo entre povos de outras regiões (90%) ou planos (80%);
- Deuses Intermediários: Estas entidades são normalmente filhos de deuses maiores, deuses de segunda geração. Embora sejam menos poderosas que um deus maior, elas possuem um respeitável número de seguidores e concedem a eles poderes ainda em número substancial. Deuses intermediários são mais próximos aos mortais do que os deuses maiores, e podem interferir diretamente em suas vidas. Sua fama é menor que a dos deuses maiores, mas seus nomes podem alcançar distâncias razoáveis (70% em outras regiões e 50% em outros planos);
- Deuses Menores: Deuses menores podem ser tanto filhos dos deuses intermediários como mortais ascendidos. Eles possuem poucos clérigos e concedem poucos poderes (normalmente um ou dois). Estas divindades são bastante ativas, embora pouco poderosas e muitas vezes podem interagir fisicamente com os personagens (talvez até como companheiros de viagem, quem sabe?!?). Eles são menos conhecidos (60% em sua região, 40% outras regiões e 30% em outros planos) e ao menos que sejam divindades únicas de uma localidade ou famosa por seus feitos, até mesmo em sua terra natal é possível que sejam desconhecidas. Os santos poderiam ser encaixados nesta categoria;
- Forças: Forças são entidades elementais ou espirituais de pouco poder. Eles são menos poderosos do que um deus menor, mas mais poderosos que um semideus. Fadas antigas, imortais, dragões e demônios poderosos podem facilmente se encaixar aqui. É pouquíssimo provável que possuam seguidores, e menos ainda, que concedam poderes aos que possuem, embora possam servir como mestres e conselheiros. Estas entidades podem ser utilizadas como inimigos dos jogadores sem remorso, afinal, em um momento ou outros, ele poderá ser derrotado. Sua área de conhecimento é bastante limitada, sendo conhecido por poucos (40% em sua região, 15% outras regiões e 5% em outros planos);
- Semideuses e Heróis: Filhos dos deuses e mortais ou mortais a um passo da divindade. Assim como as forças, possuem poucos ou nenhum seguidores e alguns até mesmo desconhecem o fato de serem o que são. Eles não concedem poderes a clérigos, mas podem receber favores das divindades patronas. Em campanhas especiais, os jogadores podem ser semideuses ou heróis. Assim como as Forças, sua área de conhecimento é bastante limitada, sendo conhecido por poucos (20% em sua região, 5% outras regiões e 1% em outros planos);
Para
deixar ainda mais fácil, querido mestre, vamos dar níveis aos deuses, assim
como personagens:
- Níveis Divinos 18 à 20: Deuses Supremos;
- Níveis Divinos 15 à 17: Deuses Maiores;
- Níveis Divinos 10 à 14: Deuses Intermediários;
- Níveis Divinos 5 à 10: Deuses Menores;
- Níveis Divinos 2 à 5: Forças;
- Níveis Divinos 1: Semideuses e Heróis;
Bom,
por hoje é só. Na parte dois, os deuses e o mundo.
Espero que
gostem!
Templário de Thiro (casadoalquimista@gmail.com)
Salve Templário de Thiro !!
ResponderExcluirMuito legal não só seu post como seu blog também, parabéns,
Não sei por onde eu estava que não conhecia isso aqui :)
Favoritei e agora vou esperar a parte 2 !!
Abs
Obrigado, Sakai!
ExcluirEspero que continue seguindo as próximas publicações! Abraços!