Por Thomas "Bárbaro do" Machado
Entraram numa das salas do fundo da loja que servia de
escritório para o estabelecimento, por todos os lados era possível ver peças
antiguíssimas, de vários períodos distintos da história da humanidade,
transformando o lugar em uma “salada histórica”. Tapetes, quadros, esculturas,
cadeiras, mesas, abajures, criados mudos, e toda a sorte de coisas que, aos
olhos de um leigo, era quinquilharia, mas para olhos treinados, pedaços da
história.
Não
imaginava que a loja era tão grande, parecia até que essa loja era bem maior do
que as lojas normais shopping, e de fato, de alguma forma sentia que estavam em
outro lugar, completamente diferente do shopping.
_Então
jovem, em que posso servi-lo? – Falou o homem, de estatura média e sem muita
definição física, cabelos negros, barba em cavanhaque e olhos castanhos
penetrantes que denotavam certa curiosidade pelo visitante que via. Vestia um
terno negro sem gravata e utilizava pulseiras e colares, todas com aspectos bem
antigos.
_Deseja
um chá? – disse isso, o dono do estabelecimento, se sentando em sua
cadeira antiga de estilo vitoriano e recostando as mãos sobre a mesa de mesmo
estilo.
_ Aceito
claro... – e antes de terminar a sentença foi interrompido por seu anfitrião.
_Annabelle,
por favor, um chá para o rapaz! =D
_Sim
senhor... – ouviu-se uma resposta suave e acolhedora e antes que seu traseiro
encontra-se as vistosas e aparentemente confortáveis almofadas da cadeira,
surgiu, sabe-se lá de onde, com uma bandeja de prata com adornos, duas xícaras
e um bule, de louça, também adornadas, uma garota de cabelos finos e loiros, de
olhos verdes.
A garota
ofereceu ao visitante um pires e uma das xícaras, servindo- o um chá de
hortelã, que perfumou toda a sala, tornando o ambiente mais aconchegante.
Espantado pelo surgimento repentino da garota, o homem apoderou-se da xícara
dizendo:
_A... O
senhor é muito gentil!
_Então
jovem, não gosto de me repetir, mas agora que o chá chegou...
_A sim,
é que, bem, desculpe pelo nervosismo, é que eu sou novato aqui cheguei a uma
semana, trabalho no departamento de comunicação do shopping e me pediram pra
executar algumas entrevistas com os locatários das lojas do shopping, o
objetivo é montar uma campanha de popularização do shopping, mostrando que a
história do shopping se confunde com a história das pessoas dessa cidade,
então... se o senhor tivesse algum tempo, poderia nos contar como foi
que o senhor abriu uma loja aqui no shopping, sabe como o senhor se interessou
pelo lugar, se por acaso o senhor vinha até aqui quando mais jovem, sabe essas
coisas, como tudo começou para o senhor.
_Bom meu
jovem, creio que a história de como eu vim parar aqui é realmente encantadora,
mas deveras longa, acredito que não terá tempo suficiente para ouvir...
_Não se
preocupe senhor, pode ficar a vontade, estou aqui para ouvi-lo no que quiser
falar – dizendo isso o homem alto de cabelos castanhos abriu sua bolsa e pegou
um gravador, ligou o mecanismo e o pousou sobre a mesa de forma gentil e
animada para ouvir a história do Homem do Chá.
_ No
começo eu não gostei da decisão deles, na verdade fui totalmente contra...
Afinal de contas o que eles estavam fazendo, me expulsando, logo eu? Que havia
lutado tanto por eles e ao lado deles, pelo simples motivo de ser diferente?
_Fiquei
irritado, mas diante da força de todos os Arcanjos juntos eu não poderia fazer
nada, então fui – pausa para tomar um pequeno gole do chá – defenestrado para a
terra... A queda foi suave, porém brutal, sabe, se me perguntasse sobre a
sensação, foi como nascer, só que ao contrário, muitas coisas foram tiradas de
mim...
_Quando
cheguei aqui, não sei bem, não me lembro muito bem dos primeiros dois mil anos,
a memória as vezes me é um problema, confesso que não me recordo de tudo, as
vezes me vem fatos a mente, me lembro de ter passado por alguns lugares que
hoje não existem mais, a onde haviam buracos existem cidades e onde haviam
cidades hoje existe somente água. Como as coisas eram muito estranhas, pelo
menos pra mim decidi andar por ai.. Conhecer a criação do Pai, então decidi ver
tudo... E tentar aprender sobre tudo, muitas coisas estavam surgindo e eu tinha
essa “chama” sabe...
_As
vezes eu penso que foi por isso que eles me tiraram de lá, todos nos fomos
criados para seguir um destino, fazer o que sempre fizeram, ser bom no que nasceram pra ser bom, mas eu não. EU NÃO! Eu podia
prender coisas novas, eu era uma anomalia, uma coisa errada, e como
eu era errado, podia fazer com que outros o fossem também, então acho que foi
isso.
_Eu
podia mais, eu podia aprender, e quando os grandes viram essa habilidade em
mim, tiveram medo, eu era uma aberração entre eles, não havia mais lugar para
mim na cidade de prata, então me jogaram aqui para apodrecer durante as eras,
para que minha sanidade mental fosse testada, e aos poucos, longe das barreiras
de proteção da Cidade de Prata, minha mente apodreceria, esse era o plano ...
Mas aquela “chama” me protegeu, e me deu a possibilidade de mudar, a minha
anomalia me tornou outra coisa...
_E mesmo
com tudo que me tinha sido tirado, minha aura pulsante, continuou comigo, e eu
pude aprendere aprendi .. tudo que pude eu aprendi ...
_Com os
Atlantis aprendi mais sobre magia, em Lemúria eu vi coisas e conheci sobre
coisas incríveis, Babilônia também vivi por muito tempo e continuei aprendendo,
sobre os humanos, e descobri que eles eram o grande tesouro que o Pai havia
criado, criaturas capazes dos atos mais lindos e também das ações mais
nefastas... Então decidi ficar e ver até onde iria tudo isso.
_Em
Delfos encontrei aquela moça ali, aquela que serve o chá – disse isso apontando
para a moça que atendia os clientes – ela estava jogada as traças no meio
daqueles velhos horríveis, usavam ela e suas irmãs de formas inomináveis, era
tão linda, seu sofrimento me chamou a atenção.
O jovem
escutava todas aquelas palavras e sentia um frio na espinha de espanto, uma
grande curiosidade por estar ouvindo a história mais incrível e fantasiosa do
mundo, mas não conseguia mandar o homem parar de contar... Estava fascinado.
_Depois
de destruir todos aqueles velhos, na verdade não eu... Só fiz com que o povo
visse que eles eram o problema e não as suas previsões... Sabe uma coisa
dos humanos que eu aprendi? É que eles sempre buscam alguém para culpar pelas
desgraças que acontecem em suas vidas... Entreguei os velhos ao povo, e eles se
deleitaram!
_Acabaram
com o templo, na verdade não com o templo, só com os sacerdotes, entreguei o
restante às outras moças e a trouxe comigo... Ela nunca me perguntou por que,
mas acho que ela sempre soube... Ela sempre sabe.
_ Já o
rapaz encontrei muito tempo depois, na verdade ele me acompanha tem mais ou
menos uns 300 anos. Era um jovem de espírito livre como eu, e sabia lidar com o
dinheiro, quando suas habilidades floresceram acreditava ser um monstro, saia por
ai durante a noite destruindo coisas e fazendo arruaça, ele era um escravo de
si mesmo... da besta interior que todos nos temos. Ele só precisava de
um Marques de Carabás para ter um objetivo, desde então faz parte do trio...
_Rsrsrs
...o senhor e estranho – disse isso o visitante soltando risos de constrangidos
e acreditando piamente que o dono da loja era um louco inveterado – Mas então,
o senhor esta me dizendo que está vivo a centenas de anos? _ Sim, é o que estou
lhe dizendo..
_ Mas
isso é impossível. É simplesmente loucura, e eu tenho que sair daqui com um
depoimento – falava com arrogância na voz – descente então eu vou apagar isso,
e começamos novamente.
_Impossível
para o senhor, Sr. Chandler, mas considerando suas notas da faculdade não imaginaria
que o senhor entendesse de cara...
_Como
assim notas da faculdade?! O que o Senhor... – interrompendo o jovem que agora
já estava de pé e nervoso pela insinuação, viu o homem do chá entregar-lhe uma
pasta com cópias do seu histórico escolar contendo suas notas, que realmente
não eram de dar inveja em ninguém.
Assustado,
após ver a pasta continuou a dizer – Como você teve acesso a isso?
_Isso
não é algo que o Senhor deva dar tanta atenção nesse momento, na verdade
existem muitas outras coisas que eu sei e, como eu sei não interessa – disse o homem
do chá se levantando da cadeira e circulando o Sr. Chandler e gentilmente
lhe conduzindo a sua cadeira – na verdade o que eu sei sobre o senhor é o que
realmente interessa.
_Não há
nada a saber sobre mim! – Disse o visitante com animosidade na fala.
_Mas é
claro que há, sempre há mais a se saber... Principalmente em se tratando de
certo verão, em certa cabana no interior, onde certos jovens...
_VOCÊ
NÃO PODE PROVAR NADA!!! NINGUÉM VIU O QUE FIZEMOS! FOI UM ACIDENTE!! NINGUÉM
PODE NOS CULPAR!!! – os gritos saiam da garganta do jovem com força e
desespero, como se tivesse sido pego, como se tivesse sido encurralado.
_Primeiro,
baixa a sua bolinha pra caralho, por que na minha sala NINGUÉM grita! – Dizendo
isso e olhando diretamente para o rapaz os olhos penetrantes do homem do chá se
transformaram e ameaçadores e terríveis o que fez com que o visitante se
assustasse e se recolhesse em sua cadeira.
_Segundo,
vocês convidaram aquele “amigo” – disse isso fazendo aspas com as mãos – de
vocês para o fim de semana prolongado na cabana. Jonathan estava tão feliz por
ter sido “aceito” – novamente usando aspas com as mãos – pela galera popular. E
claro que o menino não tinha a certeza de que o fato dele fazer os trabalhos da
turma não tinha
nada a ver com o convite, ele acreditou que
vocês eram amigos dele. Ele confiava em vocês. E o que foi que vocês fizeram?
Um trote, pegaram o garoto enquanto dormia depois de um porre, colocaram ele
num colchão inflável sobre o lago, empurraram ele, foi inocente, não imaginavam
que o rapaz poderia se afogar, haaaa a crueldade das crianças... Hoje o
Monsenhor Jonathan está em coma, a sete anos ele está naquela cama e por culpa
da brincadeira estúpida de vocês ele perdeu muito tempo de vida sabia...
O rapaz se contorcia ao ouvir a verdade da cadeira, era
terrível, alguém realmente sabia do que tinham feito, o que aconteceria agora?
Sua cabeça girava em um turbilhão de lembranças e sentimentos, ódio, medo,
vergonha tudo somando-se ao pensamento continuo de que ir pra cadeia estragaria
a minha vida e a vida de todo mundo. E algo lhe ocorreu a mente:
_Quem foi ? Quem lhe contou isso, somente nos sabíamos e
fizemos um pacto de que ninguém revelaria a verdade. Então me diga quem foi ou
então!
_Ou então o que Sr. Chandler? Acha que pode me obrigar a
qualquer coisa com a ameaça de seu físico avantajado?
E era bem isso que passava na cabeça do visitante, desde a
faculdade tinha se acostumado a resolver os problemas com os músculos, formou
por conta dos esportes e sempre se utilizava de ameaças e bullying para
alcançar seus objetivos, e pensou – “Até os professores tinham medo de mim, não
vou deixar um idiota franzino como esse me chantagear vou mostrar a ele quem
ele é”- Levantou-se da cadeira e agarrou algo que parecia ser uma
velha espada num canto qualquer e disse:
_Sim! E
você vai me dizer quem foi que contou, ou então vou acabar com sua raça aqui
mesmo e...
Antes de
terminar de proferir a ameaça um soco veio, rápido, sagaz, pungente. O nariz do
ex jogador de futebol americano se entortou pra esquerda e o sangue quente
jorrou pelas narinas. Caiu novamente na cadeira. O ódio se tornou ira e tentou
se levantar novamente, somente pra ser atingido com as costas da mão, não no
rosto mas na têmpora direita. A força era absurda pra alguém tão, aparentemente
incapaz. Ficou zonzo, sentiu-se perder os sentidos.
Quando
acordou, uns 5 minutos depois, viu a presença de uma terceira figura. Alto e
robusto de forma ameaçadora e com tatuagens pelo corpo, era o segurança do
shopping , Rudolf! “Está ai a minha salvação” pensou, e foi logo dizendo:
_Ei
Rudolf, esse cara me agrediu dentro de sua loja...
_Não
entenda mal – Disse o homem do chá – Ele não esta aqui para defende-lo, ele
está aqui para garantir que não precisarei me exceder com você de novo, afinal,
seu preço e maior se estiver com vida.... Mas então como eu ia dizendo o Sr. é
um criminoso e deve ao Monsenhor Jonathan o pagamento justo por seu acidente.
_Mas o que
posso fazer, foi o que aconteceu e nenhum de nos pode fazer nada por isso.
_Bom, é
claro que há algo a se fazer, sempre há, o que faremos é o seguinte, você junto
com os outros nove jovens, que a propósito já aceitaram o acordo, vão dar ao
querido Monsenhor Jonathan 7 anos de sua vida, 7 x 10 dá um total de 70 anos,
ele vai se recuperar, viver seus setenta anos felizes e vigorosos e vai morrer
velhinho e bem como deveria ter acontecido ... e vocês .. bom vocês vão
carregar a satisfação de estarem trazendo um grande amigo de volta ao mundo dos
vivos... não que ele esteja morto.. mas e quase como se estivesse ... bom você
entendeu.
_Eu não
sou obrigado a...
_Bom,
outra coisa que gostaria que soubesse é que isso é um chance de redenção pra
você também, afinal, quantas pessoas que colocam um rapaz em um colchão
inflável sobre um rio, o vêem se afogar e não fazem nada para salva-lo merecem
um lugar melhor após a passagem ? Pode acreditar, não muitos... E de mais a
mais, acha que não posso fazer da sua vida um inferno na terra caso você não
aceite o acordo? Acha mesmo que não posso acabar com Sofie, aquela vadiazinha
que você anda fodendo? Acha mesmo que eu não posso deixar seus pais na merda?
Acha mesmo que eu não posso sujar a sua vida tanto, mas tanto que você vai
preferir ter estado naquele colchão e estar em coma agora e limpara privadas da
rodoviáriavai ser o máximo que vai conseguir nesse sua vida de merda?
_TÁ BOM!
Digo, esta bem. Eu dou a ele sete anos da minha vida...
_Então
negócio fechado!
Dizendo
isso o homem do chá apertou a mão do jovem, que sentiu como se estivesse
sangrando muito, fechou os olhos e podia sentir o fluido vital saindo de dentro
de dele e indo pra outro lugar, sentiu-se mais fraco, cansado, tonto novamente,
mas quando acabou tudo, tudo ficou nebuloso e novamente a sensação de desmaiar.
Quando
acordou o homem dizia:
_E ai
conversei com a gerência do shopping e aluguei a loja aqui. Hoje meu
faturamento é muito melhor e tenho uma visibilidade muito grande além de não
ter problemas com assaltantes.
_Ahann –
respondeu como se voltasse de um longo sono – mas o que aconteceu?
_Bom,
estávamos tendo uma entrevista, e o senhor gravou a minha história. Não é das
melhores mas acho que vai servir.
_Mas...eeehn...
qual o seu nome ?
_Meu
nome é Lestat, mas meus amigos me chamam de Carabás, e infelizmente tenho que continuar com o trabalho, Marrie! Por
favor, Marrie, acompanhe o nobre senhor até a porta ...
_Estranho,
não estou me sentindo bem, é como se acordasse de um pesadelo ou algo assim...
_Não se
preocupe, deve ser uma queda de pressão, Marrie vai lhe acompanhar até a
enfermaria do shopping.
_Não é
necessário, estou a trabalho e não posso me demorar nos afazeres...
_Tudo
bem, vá em paz, e volte para tomar um chá quando quiser – disse isso
sorrindo de forma agradável ao visitante que se despedia.
_Claro!
– respondeu o visitante também com um grande sorriso – O chá estava excelente!
_Então
volte sempre senhor Chandler, a casa está sempre aberta aos amigos...
Saiu
então o homem sem entender o que havia acontecido, porém, com a alma tranqüila
como se tivesse feito algo de bom a alguém... mas esse pensamento logo se
espaireceu e o jovem partiu para a nova entrevista, numa outra loja num andar a
baixo, uma loja de tapetes chamada “Fogo do Oriente”.
Logo que
a porta bateu, o anfitrião que ainda portava uma xícara na mão com aquele
saboroso, e acolhedor chá de hortelã. Deixou a xícara sobre a mesa, pousada
sobre um descanso de copo. Tirou do bolso, um tubo de ensaio aparentemente
muito antigo, lacrado com uma rolha. Dentro do tubo, uma pequena luz brilhava,
com efeitos e tons em púrpura e vermelho.
_Lorrayne.
Pegue por favor esse tubo, tire 10 anos daí e guarde no cofre.
_Sim
mestre ... – disse a moça sempre em tom afável.
Em
seguida ouviu o badalo do sino característico de quando alguém abre a porta de
forma esbaforida, seguiu pra fora do escritório. Chegando lá, viu a Sra.
Talbot, e disse:
_A hora
chegou senhora, vamos trazer seu filho de volta. Mas primeiro, trouxe o que
pedi?
_Sim Homem
do Chá, está aqui – disse a senhora , entregando, enrolado em um tecido de
ceda, um cacho de cabelos loiros e delicados – são esses, os primeiros
cachinhos de cabelo que cortamos do Jonathan, só não entendo como isso pode
trazer meu filho de volta do coma...
_Não se
preocupe senhora – disse o homem – amanha a esta hora estará tomando café da
manha com seu filho e todos esses anos de sofrimento pareceram apenas um
pesadelo em sua vida.
Saíram
da loja, e tomaram caminho para o escritório... e tudo correu bem...
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Abraços Fratentos!
Espero que gostem!!!!
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