terça-feira, 27 de maio de 2014

Destilando Assuntos: Panteões – Parte 2

Destilando Assuntos: Panteões – Teogênese, pt.2 – Os deuses e o mundo

Olá, Bravos!

Segue a segunda parte da matéria, como eu prometi.

Boa leitura e não deixem de comentar!


Como é a relação dos deuses com outros deuses?
            Esta pergunta pode parecer limitadora, mas não é: Quando falo “deuses” posso não limito suas opções a um sistema de crenças – dualismo ou politeísmo – pois até mesmo um sistema monoteísta pode possuir criaturas poderosas o suficiente para serem confundidas com deuses.

            Uma das formas mais fáceis de se montar um panteão é considera-los uma espécie de família divina – ou uma família divina propriamente dita – com laços paternos, maternos, fraternos e matrimoniais, ou como uma agremiação de seres poderosos que mesmo não possuindo parentesco se unem para criar um mundo. Neste contexto é comum que deuses possuam os mesmos problemas de relacionamento que os mortais: amores, ciúmes, paixões, rixas, desentendimentos... Veja as religiões helênicas e nórdicas! Elas eram um verdadeiro caldeirão de defeitos humanos prestes a ferver e derramar o caldo nos pobres humanos!

            Ao criar um panteão, o mestre deve ter em mente que em determinado momento a natureza das divindades entrará em conflito e para sobreviver a estes conflitos (uma pergunta: Os deuses morrem?) associações e laços de amizade também se formam. Deuses com aspectos semelhantes normalmente serão aliados, enquanto deuses com aspectos antagônicos serão inimigos (mas isto não é uma regra). Para facilitar sua vida, querido mestre (e querido clérigo!) uma pequena fórmula de bolo pode ser aplicada:

  • Monoteísmo: Deuses monoteístas combateriam seres de poder elevado que desejam se tornar deuses ou usurpar o posto da divindade em questão, enquanto forjaria alianças com seres poderosos que aceitam se submeter a seus desígnios ou que sejam oriundos de sua religião. Exemplo: A visão católica de Deus permite a existência de santos e anjos, que funcionariam como uma espécie de deuses menores, mas se opõe a Lúcifer e outros demônios, que desejariam usurpar seu trono;
  • Dualismo: Uma religião dualista provavelmente será calcada em deuses de aspectos opostos (bem e mal, luz e trevas, vida e morte, guerra e paz, brasileiros e argentinos...), então o antagonismo nasceria por si só. Exemplo: Um exemplo clássico é a religião Zoroastrista, onde Ahura Mazda, senhor da luz e da vida combate dia a dia Angra Mainú, o deus das Trevas;
  • Politeísmo: Aqui a coisa começa a ficar um pouco mais complicada: Deuses de aspectos diferentes podem ser aliados e vice-e-versa. Neste caso, para facilitar sua vida, caro mestre, baseie-se na tendência da divindade para definir aliados e inimigos. Deuses bons serão inimigos de deuses maus (e vice-e-versa) e deuses neutros seria inimigo dos deuses que afetam diretamente seus desejos (um deus neutro da morte poderia ser inimigo de um deus bondoso da vida, mas aliado de um deus maligno da guerra ou um deus neutro da natureza poderia ser aliado de um deus bondoso dos mares e inimigo de um deus igualmente bondoso, mas que prega o progresso);
  • Animismo: A relação dos espíritos com outras divindades e mesmo com seres de mesma categoria é algo realmente complicado. Como se relacionam mais proximamente com seus seguidores, espíritos e totens não se importam muito com disputas pessoais, a menos que uma grande ofensa tenha sido feira diretamente a eles. Eles terão mais rusgas com deuses que promovem a destruição de seus lugares sagrados ou modo de vida, mas de uma forma mais geral, duelos e alianças com deuses e espíritos de outras religiões será muito menos comum.


Mas esta é só uma receita de bolo. Pense fora da caixa, caro mestre, expanda os horizontes: Pense em duas culturas distantes que cultuam dois deuses do sol. Será que estes deuses são a mesma divindade com nomes diferentes? Eles serão duas entidades distintas que não se conheciam? Ou se conheciam e decidiram dividir o mundo para evitar conflitos? Eles serão aliados? Inimigos? Se os dois deuses solares de tendências opostas um tentará tomar o domínio do outro ou simplesmente se ignorarão?

Pense mais! E se os deuses menores decidirem caçar forças e semideuses para aumentar seu próprio poder? Como isto afetaria os adoradores destas divindades? E se forças externas, como os antigos ou poderes elementais de grande magnitude decidissem atacar as divindades de seu cenário? Ei, eu não disse que daria todas as respostas!

Como é a relação dos deuses com o mundo?
            Os Deuses do seu cenário são ativos, presentes, inativos ou apáticos?

  • Divindades ativas estão sempre em sintonia com o mundo (ou parte do mundo onde é adorada), com seus fiéis e seus ideais. Estas divindades respondem a orações, concedem poderes e em alguns momentos específicos podem ser acessadas física ou metafisicamente. Este é o tipo mais comum de divindades em panteões monoteístas, dualistas ou politeístas;
  • Divindades presentes são também divindades ativas, mas ao contrário de divindades que são apenas ativas elas estão fisicamente ou espiritualmente presentes no mundo e podem ser acessadas com muita facilidade pelos fiéis. Divindades menores, semideuses, heróis e forças são as entidades presentes mais comuns, muitas vezes interagindo diretamente com seus fiéis (talvez os únicos que possuam). Veja que uma divindade ativa pode ou não ser uma divindade presente (não vindo ao mundo nem na forma de um avatar, por exemplo), mas uma divindade presente sempre será uma divindade ativa. Este tipo de divindade é ideal caso o mestre deseje incluir religiões animistas em sua campanha, pois pode representar espíritos totem ou ancestrais, patronos de bruxas e druidas ou mesmo “santos” que são mais próximos de seus fiéis;
  • Divindades distantes são aquelas que raramente interferem em nosso plano de existência. Este tipo de divindade é comum em religiões monoteístas, dualistas e politeístas, onde em alguns momentos a burocracia celestial ou mesmo as disputas entre divindades podem tomar muito do seu tempo. Este tipo de divindade raramente entrará em contato com algum mortal, reservando seus contatos para indivíduos especiais, como sumo-sacerdotes, profetas, messias ou qualquer tipo de mortal escolhido para levar sua mensagem;
  • Divindades apáticas simplesmente ignoram a existência dos mortais e seus problemas. Eles podem ser objeto de adoração ou mesmo possuir religiões massivas e bem constituídas em seu nome, mas, a não ser que algo realmente extraordinário aconteça nos mundos em que recebe adoração ele não entrará em contato com ele. Divindades podem se tornar apáticas por arrogância, tédio ou mesmo por desconhecer que existam mortais que a adorem! Deuses apáticos não lançam desígnios ou obrigações a seus fiéis, tornando seu código de conduta mais um “acordo social” entre seus clérigos e paladinos e menos uma imposição divina. Estas religiões são as mais propensas a se basear e sagas épicas ou livros sagrados e tem na figura de um sumo-sacerdote a base moral de sua fé.


Como é a relação dos deuses com os fiéis?
Veja que quanto mais ativa divindade, maior o seu número de fiéis e por consequência maior o seu poder. Deuses ativos ou presentes que se tornem distantes ou apáticos podem perder fiéis e poderes, assim como deuses apáticos e distantes que voltem sua atenção para o mundo físico podem se tornar poderosos e dependendo de sua índole, um perigo em potencial.

A proximidade com os fiéis também define eixos moralizantes que podem ser a espinha dorsal da religião e do comportamento do clérigo. Estes eixos podem ser chamados de dogmas, ditames, tabus, obrigações e restrições, baseadas nos ideais e natureza da divindade (voto de pobreza, de não agressão, de agressão, de nunca mentir, de doação de tributos, de não comer um tipo específico de animal, de celibato...) e afetam diretamente os poderes de um clérigo, fazendo com que eles percam suas habilidades temporariamente ou permanentemente. Estes ditames devem ser básicos, claros e possíveis de cumprimento, ou não terão sentido. Vou apresentar os ditames na próxima matéria, quando falaremos da construção numérica dos deuses.

            Sacerdotes de divindades distantes ou apáticas foram doutrinados para ver o mundo desta forma: Seus deuses estão alí, mas não são tão ativos quanto outras divindades. Esta diferença de atitude pode fazer com que sacerdotes caiam em descrença ou mesmo que migrem para o seio de divindades mais próximas dos mortais. Isto também se refere a divindades que punem inutilmente seus fiéis: um deslize cometido por um sacerdote ou paladino DEVE ser punido em maior ou menor grau, mas uma divindade que pune TODOS os mínimos deslizes de um homem de fé também estaria exagerando. Mestres e Mestras! Somos do movimento old school, não somos? Então, pense comigo: um clérigo que tem como restrição o voto de castidade (ou seja, nada de snu-snu) e que ceda aos encantos da ladina fogosa com decote que vai até o pé, DEVE ser punido com a perda de alguns ou todos os poderes até se redimir, mas se o mesmo clérigo simplesmente perde o olhar no decote, ele deve ser advertido, talvez por sua própria consciência e pelo dogma de sua fé (se o mestre for como eu, talvez impondo uma penalidadezinha leve até que ele se confesse ou peça perdão à divindade). Jogadores que conheçam a importância de qualquer voto e que os interpretem como se deve deveriam ser recompensados por isso.

Deuses menores, forças, semideuses e heróis por outro lado, sempre terão uma proximidade imensa com seus seguidores. Em alguns casos, estas entidades terão no máximo duas dúzias de clérigos e dois ou três paladinos e seu poder será sentido apenas em uma área limitada. Estas divindades são mais mundanas, e seu relacionamento com seus fiéis será muito estreito (eles podem ser amigos, amantes, parentes, a divindade pode – e muito provavelmente o fará – estar presente nas celebração, ordenará seus próprios seguidores e paladinos, os receberá no retorno de missões, cuidará de suas feridas, fará banquetes em sua honra...), criando clérigos de poder menos ativo mas muito mais apaixonados do que clérigos de deuses maiores! Semideuses e Heróis por sua vez não concedem poderes a clérigos, mas podem ser seus companheiros de batalha ou líderes!

            Quanto maior o poder de um deus, maior o seu número de seguidores, mas isto não significa que as divindades podem deixar este ou aquele fiel na mão – em especial quando lidamos com clérigos e paladinos. Não, os deuses não estarão cem por cento do tempo assoprando o dodói de seus representantes sagrados, mas não podem se esquecer de renovar as magias de seus sacerdotes!

Bom, por hoje é só. Na parte três, “O poder dos Números”.

Espero que gostem!

Templário de Thiro (casadoalquimista@gmail.com)


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